Em minha última aparição nessa coluna, procurei abrir debate sobre temas que entendo pertinentes quando falamos de esperança, especialmente de saúde mental - no fim das contas uma pode se equiparar à outra. Hoje quero falar contigo sobre um tópico que há tempos vem me incomodando: a educação. Longe de mim, discutir os aspectos técnicos relacionados à formação das e dos professores. Quero aqui falar sobre a desvalorização dessa categoria essencial para o desenvolvimento de qualquer país.
Durante a minha formação acadêmica, tive contato com um dado relativamente assustador: até a década de 1970, a categoria era salarial e socialmente mais valorizada. Após esse período, o declínio dessa situação foi progressiva - no arrocho salarial e também no discurso social. E não é apenas eu quem fala isso. Basta que observemos durante o nosso próprio percurso acadêmico, greves, precarização das instituições, falta de investimento em material e de infraestrutura nas escolas, etc.
Um dos livros que me ajudou a perceber essas transformações é o que relata a pesquisa de Rodolfo Ferreira - há uma infinidade de outros materiais. Decidi trazer esse debate não apenas pela aproximação dos textos sobre educação, tampouco de Paulo Freire - o qual, vez ou outra, figura por aqui -, mas porque, apesar de toda essa desvalorização, os professores ainda são agentes da esperança. E é aqui que desejo centralizar nossa discussão.
No próximo 15, é comum que lembremos o Dia do Professor, mas também é nessa data que muitos se mobilizam (ou deveriam) para lembrar do quanto apenas essa data não contempla a diversidade e a complexidade do trabalho realizado pelos professores de todo país. É preciso que se observem e valorizem as diferenças sociais, econômicas, geográficas, de gênero, etária, de linguagem, compostas em histórias de cada uma e cada um. Pois assim, entendo, é que podemos promover as mudanças que tanto queremos. Logo, não basta exigir desses sujeitos o retorno de algo que não lhes é dado: reconhecimento moral, social e do trabalho.
Sim, trabalho. Professores são trabalhadores da educação. Então, é melhor dizer que os trabalhadores da educação ainda são agentes da esperança. Se com eles aprendemos a ler o mundo, a saber que ferramentas abstratas, reais, do idioma, na terra, no ar, devemos usar, quais cálculos fazer. Com eles, também aprendemos que as trocas de saberes entre os humanos se complexificaram e representam um trabalho que permite levantar questões e a buscar compreender as mudanças que tanto desejamos, pois não é a educação, mas os trabalhadores da educação e os instrumentos por eles desenvolvidos que nos permitem ver e agir no mundo. Ora, não seria essa uma das definições da esperança, poder agir no mundo? Reconhecer que se pode agir e viver nele?
E por isso, na próxima sexta-feira, 15 de outubro, não quero desejar só um feliz dia, mas valorização profissional, e infraestrutura de qualidade, e acesso a debates, e a tempo de qualidade para formação, e... e...
Texto: Paula Hosana Silveira Biazus
Psicóloga e mestre em Educação Profissional e Tecnológica